terça-feira, 6 de julho de 2010

Catástrofes naturais expõem falta de planejamento urbano


Especialistas culpam processo de urbanização desordenado e falta de planejamento público pelas inundações e deslizamentos de terra que ocorrem em grandes cidades brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro.


Ocupação sem planos

De acordo com o prof. Rubem Porto, do Departamento de Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP, é inevitável que um processo de ocupação de solo não altere a drenagem natural das águas, causando impermeabilização. Por isso, qualquer cidade grande do mundo em que tivesse chovido a quantidade que choveu no Rio de Janeiro entre os dias 5 e 6 de abril teria tido problemas.

“O problema é a ocupação urbana, que não é feita de forma ordenada”, comenta o prof. Alex Abiko, do Departamento de Construção Civil da Poli. “Áreas que não poderiam ser ocupadas, como ao longo de rios, começam a ser por falta de planejamento, então elas inundam”, diz.

Chuvas e deslizamentos

Sistemas de drenagem para diminuir os problemas da ocupação existem desde a Antiguidade. O sistema adotado em cidades brasileiras geralmente o de separador absoluto, em que esgoto doméstico e águas pluviais são conduzidos em redes diferentes.

Apesar de existirem, é consenso entre especialistas que falta planejamento para garantir a eficácia e a abrangência dos sistemas e evitar deslizamentos de terra. Segundo Abiko, a falta de estrutura das grandes cidades, que carecem de obras de contenção de encostas ou mesmo de sistemas de drenagem básicos, é resultado de um “conjunto de equívocos que foram feitos ao longo de muitos anos”.

No caso do Rio de Janeiro, em que houve em cerca de 250 mortos no início de abril por causa de chuvas e deslizamentos, Porto diz que a cidade está tomando medidas emergenciais, como a remoção de pessoas de favelas, porque não se preveniu. “Não podemos continuar atendo-se a medidas curativas e emergenciais, temos que investir forte e de uma forma muita técnica nas soluções preventivas”, diz.

Planejamento Público

O ponto principal de um plano público deve ser, segundo Abiko, definir prioridades, como as vidas humanas. Depois disso, “um mapeamento das áreas de risco nas cidades deve ser feito para saber o que fazer”, diz. Ele ressalta a importância da periodicidade dessas análises para manter a atualidade dos projetos e obras.

Outra medida importante é o de urbanizar áreas que não tem sistema sanitário, de drenagem, de contenção de encostas, como favelas. “Um projeto bem feito deve constar com análise das áreas de risco, redesenho do sistema viário e retirada da população de áreas críticas”, comenta Abiko.

Para Porto, essas soluções só existirão se houver um poder coordenador que una governos estaduais e municipais, a população, a indústria. “Esse poder tem que ter força política, capacidade de decidir sobre investimentos e de mobilização das áreas técnicas que existem. Se não forem tomadas decisões nesta linha, desastres vão se repetir ano após ano”, diz.Catástrofes naturais expõem falta de planejamento urbano
Clara Velasco

Um comentário:

  1. Gente, eu acho que poderíamos fazer um levantamento dos planejamentos existentes (ou não)de ocupação das nossas cidades que servirão como objeto de pesquisa.
    Concordam?

    ResponderExcluir