segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Cultura a Serviço da Poluição Ambiental

Os problemas ambientais do planeta não são fruto somente de decisões econômicas, conseqüências de políticas de desenvolvimento ou pura falta de educação.
Por trás dos dados que apontam para o esgotamento dos limites da natureza está uma postura cultural, quase imperceptível, que legitima as ações que redundam no efeito estufa, na extinção de espécies animais e vegetais ou na poluição da água. Em meio aos discursos que defendem o meio ambiente, existe uma “cultura antiverde” não percebida, nem abordada, que explica porque ainda é grande a distância entre retórica e prática nas questões ambientais. A sensação é de que quanto mais se fala em meio ambiente, mais os índices de degradação aumentam. Quanto mais se apresentam propostas de desenvolvimento sustentável, menos sustentável se apresenta a vida dentro do mundo atual, marcado pelo aumento da pobreza e da desigualdade social e pelo sentir-se cidadão mais vinculado ao poder de consumo do que ao exercício da cidadania.

A cultura da poluição é mais visível ainda nos meios de comunicação de massa. A mensagem subliminar pela insustentabilidade ambiental está presente especialmente no jornalismo. Encurralada pela pouca diversidade de fontes e pelo formato jornalístico, a notícia comumente trata os fatos ambientais como conseqüências inevitáveis ou procedentes de um agente isolado. Hannigan (1995, p. 89) alerta que:

“as histórias dos meios de comunicação social sobre os acontecimentos ambientais perigosos favorecem enquadramentos monocausais, em vez de enquadramentos que envolvam redes causais longas e complexas”.

O raciocínio de Hannigan (1995) é o de que o jornalismo falha ao reduzir a complexidade que explica os problemas ambientais. Falha que traduz-se em legitimação inconsciente das políticas econômicas, sociais e culturais que compõem o estilo contemporâneo de vida, comprovadamente insustentável do ponto de vista ambiental.
Ampliando o olhar sobre os meios de comunicação de massa, observa-se ainda que a “moda verde”, apesar do potencial de mudança que leva em seu âmago, está mais a serviço de uma estratégia de circulação de bens simbólicos e duráveis do que atuando em favor de uma nova cultura, fundamentada em valores que coloquem a teia da vida em posição prioritária. Mesmo apresentando um pouco de toda a diversidade que existe no mundo, os meios de comunicação de massa propagam a monocultura mental por apresentarem todos os conteúdos sob uma mesma lógica, impregnada pela noção de que as escolhas do mercado, as descobertas da ciência e o consumo a tudo darão uma resposta.

A Antropologia cresceu tendo no seu centro o conceito de cultura. Entre as concepções antropológicas, Thompson (2002, p. 173) distingue duas, denominadas de concepção descritiva e concepção simbólica. A concepção descritiva define que:

“a cultura de um grupo ou sociedade é o conjunto de crenças, costumes, idéias e valores, bem como os artefatos, objetos e instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de um grupo ou sociedade”.

Por buscar envolver tudo o que não seja meramente fisiológico, a concepção descritiva perde-se na imprecisão e na similaridade com a própria definição do que é Antropologia.
Já a concepção simbólica desvia-se da descrição para dedicar-se ao entendimento dos fenômenos culturais.

“Cultura é o padrão de significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências, concepções e crenças”O estudo da cultura está essencialmente interessa na interpretação dos símbolos e da ação simbólica” (p. 176).


Thompson (2002, p. 180) afirma que a concepção simbólica “falha ao não dar suficiente atenção aos problemas de poder e conflito e, mais genericamente, aos contextos sociais estruturados dentro dos quais os fenômenos culturais são produzidos, transmitidos e recebidos”.

Conclusão
Há sempre uma cultura legitimadora justificando todas as atitudes do homem que ferem o equilíbrio ambiental. Cultura normalmente imperceptível à maior parte dos olhos que debruçam-se sobre a relação do homem com a natureza ou ausente de quase todas as políticas públicas voltadas para o meio ambiente. Seja pela crença de que o planeta existe somente para servir a espécie humana ou pela dominação avassaladora do capitalismo globalizante que nos impele, sem nos dar chance de pensar, a explorar cada vez mais para consumir cada vez mais, o homem não percebe que os problemas ambientais estão intimamente ligados ao modelo de sociedade predominante no mundo, construído na disputa pelo poder político, econômico, coercitivo e cultural, conforme sugere Thompson (1998).

Se a cultura é uma das instâncias de construção das estruturas sociais, não se pode sugerir qualquer mudança na relação homem/natureza sem uma abordagem cultural. E o início dessa abordagem focaliza-se sobre a denúncia de que a cultura dominante legitima a destruição ambiental. Não se trata de uma denúncia voltada para o conflito, e sim para a chamada de atenção. Nossos valores e visões concernentes ao meio ambiente mostram- se em desacordo com a teia da vida. Para o homem, o belo, o útil, o explorável merecem continuar ocupando espaço na Terra. O restante pode ser eliminado. Para a teia da vida, cada elemento possui um lugar e uma função no equilíbrio natural. A monocultura mental que domina o substrato dos nossos valores ambientais não respeita a teia da vida.

Os meios de comunicação, que exercem uma função constitutiva sobre a cultura, conforme Martín-Barbero (2003), são os instrumentos preferenciais para instaurar uma nova relação entre homem e natureza. Dando voz a movimentos sociais reformadores, que pregam modelos de vida baseados nas teses do ambientalismo, os meios de comunicação e os comunicadores têm condições de se transformarem em agentes de um novo tempo. Para tanto, devem praticar a reconversão do olhar quando tratarem das questões ambientais, permitindo o florescimento de uma prática comunicativa mais plural, negociadora de sentidos e preocupada com a eliminação das desigualdades econômicas, sociais e culturais.

É possível que os meios de comunicação ajudem realmente a denunciar a cultura da poluição? Mais ainda: é factível acreditar que os meios de comunicação, controlados pela mesma lógica capitalista e globalizante que rege o mundo, assumam-se como agentes de mudança? Não existem exemplos acabados neste momento que façam da circulação de bens simbólicos pelas redes mundiais de comunicação um instrumento de instauração da nova relação necessária entre homem e natureza. Entretanto, existem motivos para acreditar que alguns pilares já foram lançados. Na mídia, mesmo com abordagens que eventualmente não se apresentam como as mais corretas, cada vez mais se discute a questão ambiental; o ecologicamente correto é um dos elementos norteadores dos bens culturais difundidos pelos mecanismos do capitalismo global; e tornou-se regra nas peças publicitárias que buscam vender os bens duráveis associar o produto em questão a conceitos de sustentabilidade ambiental e qualidade de vida.

A combinação dessas mensagens tem o potencial de mostrar ao homem que o futuro do planeta também depende da troca da cultura da poluição pela cultura da preservação. Na cultura da poluição vigora a estética da beleza estreita, que separa, rotula, prioriza o que se encaixa em determinados padrões em detrimento do que destoa do padrão dominante. Já a na cultura da preservação instala-se a estética do cuidado, que assegura, em primeiro lugar, o respeito ao diferente e reconhece o valor de cada elemento dentro da teia da vida. Mesmo que parte desse artigo possa ser visto como utopia, fica pelo menos a certeza de pelo desnudamento da cultura que legitima a poluição se pode construir, com a influência decisiva da comunicação, uma cultura que atue exatamente no sentido contrário, impregnando os demais elementos constitutivos da
sociedade de um instinto de respeito aos sistemas ambientais que garantem a vida na Terra.

Fonte:
http://74.125.155.132/scholar?q=cache:2IVG847Vr74J:scholar.google.com/++cultura+e+polui%C3%A7%C3%A3o&hl=pt-BR&as_sdt=2000

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