segunda-feira, 26 de julho de 2010

Fechamento de aterro sanitário leva preocupação a duas comunidades no Rio

A prometida desativação em 2011 do aterro sanitário de Gramacho, na região metropolitana do Rio, está deixando duas comunidades apreensivas, por motivos opostos. Enquanto os trabalhadores de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, temem pela perda maciça dos milhares de empregos gerados com a reciclagem do lixo, os moradores da bucólica Agrovila de Chaperó, em Seropédica, protestam contra a chegada do aterro que irá substituir Gramacho.

No lixão que atualmente existe à beira da baía de Guanabara, sobrevivem diretamente da coleta de materiais 3.000 pessoas, sendo que outras milhares trabalham no entorno, em empresas de processamento do que é reciclado ou no microcomércio que serve aos trabalhadores. Os dados são da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho (Acamjg), que reúne 100 associados, mas tem mais de 1.500 pessoas cadastradas.

A diretora financeira da associação, Glória Cristina dos Santos, disse que o futuro é incerto, mas confia no novo sistema de coleta seletiva anunciado pela prefeitura do Rio, que deverá separar o lixo da maior parte da cidade.

"A prefeitura ainda não possui um plano de ação e a própria associação não tem um plano que seja viável. Precisamos formular uma proposta que possa realmente ser implementada. O óbvio é fazer a coleta seletiva, mas isso depende de uma série de ações e de vontade política. O tempo para isso é pouco", disse Glória.

O secretário municipal de Meio Ambiente do Rio, vice-prefeito Carlos Alberto Muniz, tem reafirmado que o aterro de Gramacho já tem data para fechar e não passa do início de 2011. "Nós podemos afirmar que no ano que vem a prefeitura do Rio de Janeiro não estará depositando mais nenhum lixo no aterro de Gramacho e ele será desativado", afirmou Muniz.

Ele adiantou que um amplo projeto de coleta seletiva começará a ser implantado em quase toda cidade do Rio. "Um grande programa será posto em prática neste segundo semestre, para poder separar já na fonte e reciclar os resíduos. O lixo será matéria-prima e entrará na cadeia produtiva em articulação com as cooperativas", disse o vice-prefeito.

Atualmente, segundo ele, a coleta seletiva é implementada apenas em uma parcela da zona sul da cidade. O novo processo será distribuído em cinco galpões espalhados estrategicamente pelo município, que terão financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Espaço

O sistema é a esperança para catadores como Mário Luiz Ávila Martins. Viúvo, ele sustenta cinco filhos com o trabalho de reciclagem em Gramacho. "Muita gente que trabalha no lixão não está preparado para o novo modelo Não vai ter espaço para todo mundo. Só para quem está agora procurando se qualificar", disse o catador, que está fazendo um curso de agente ambiental, oferecido com apoio da Firjan (Federação das Indústria do Rio de Janeiro) e do BNDES. Além de aprenderem sobre o processo de reciclagem, os trabalhadores também recebem noções de informática.

Segundo Mário, entretanto, o processo que vai privilegiar a reciclagem, com o fim do aterro de Gramacho, estará centrado nas cooperativas, podendo deixar de lado centenas de outros catadores independentes, que não são associados a nenhum grupo.

É o caso das amigas Tânia Francisca de Andrade e Zélia Regina Costa Couto, que trabalham há mais de 20 anos na coleta de resíduos. Idosas, elas não têm certeza sobre o que vai acontecer daqui para frente. Sem qualquer proteção, de chinelos de dedos e sem luvas, elas separavam o lixo, em um terreno próximo à entrada do aterro.

"Eu trabalho lá dentro [no lixão]. Se acabar o que eu vou fazer?", perguntou Tânia, que desconhecia a existência de cursos de qualificação oferecidos aos catadores: "Estão oferecendo cursos? Não sei disso não".

"Se fechar Gramacho, eu pretendo comprar um negócio para vender uns pastéis, uns bolinhos na rua. Eu sei me virar. O problema são os outros, que já estão acostumados a trabalhar com a coleta e só conhecem o lixo. Mas eu acho que não vai fechar, não. Tem muitos anos que dizem isso", afirmou Zélia que sustenta o marido doente e duas filhas com o trabalho de separação do lixo e ainda mantém a esperança de poder continuar o trabalho de catadora no futuro.

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