terça-feira, 10 de agosto de 2010

Poluição Visual - Relatório I

Fazendo uma análise profunda e imparcial da pichação e do grafite, é fácil perceber que essas duas práticas não podem ser, sem conhecimento do conjunto da obra, tachadas como poluitivas. No final das contas, são demonstrações artísticas, são maneiras que determinados grupos de jovens encontraram de se relacionar com o mundo exterior, de mostrar a todos no que acreditam (como pichações sobre ideais políticos, ou grafites que nos passam mensagens de esperança), que têm talento também (nesse caso, para a arte).
Ora, se o jovem está buscando “deixar sua marca”, está procurando explicitar seu mundo interior; através de ilustrações e “tags” (assinaturas estilizadas, que define cada pichador), os “artistas” (ponho artistas assim entre aspas, pois denominar pichadores e grafiteiros de artistas ainda é ato circulado por controvérsias) mostram ao mundo o que pensam, o que querem representar, os ideais que carregam, ou no que o ambiente em que vive os transformou.
Eles expõem sua subjetividade ao mundo através de sprays e atos de natureza duvidosa. Mas esses atos, que inspiram comentários e opiniões controversas, não podem ser denominados como vândalos ou poluentes, sem que haja base para tal. Grafiteiros e pichadores são vândalos quando invadem a propriedade alheia para fazer sua arte, e o mesmo para os grafiteiros. Os dois grupos de artistas poluem (visualmente) quando enfeiam o ambiente, tornam-no carregado e o degradam.
Essa é a cultura deles, e é assim que os artistas de rua querem que o mundo os veja: gostam de escalar grandes alturas, demonstrando que são corajosos, e talvez por isso consigam sobreviver à condição de pobreza em que muitos deles se encontram; possuidores de opinião e ideologia, daí as mensagens muitas vezes de protesto; e através de desenhos e ilustrações nos contam sobre seu ambiente onde vivem, ou onde gostariam de viver ou estar.
Qualquer pessoa possuidora de uma opinião estruturalista, rígida e tradicional, classificaria os pichadores e grafiteiros como “marginais, maloqueiros”, quando, em grande parte das vezes, o que esses jovens querem é nos passar uma mensagem ou nos mostrar sua cultura, sua realidade. O preconceito, às vezes, impede as pessoas de reconhecerem um pedido por atenção, ou ajuda.
Agora, vamos nos voltar à poluição sonora, praticada pelas igrejas/templos e bares e casas noturnas. Quanto à classificação como “poluição”, não há grandes controvérsias; quando o ruído incomoda, é acima de 50 decibéis, como fixado pela NBR 10.152 ou em horário impróprio em áreas residenciais (após às 22hs e até às 6hs), o ruído é considerado poluente.
Talvez a maior questão sobre esses tipos de poluição sonora é o porquê deles ocorrerem, como são vistos pela população em geral, e como os agentes poluidores (no caso os freqüentadores dos templos e das baladas) pensam em relação a isso. Na resposta a todas essas indagações, podemos conferir grande relação com o conceito de cultura, subjetividade, estruturalismo e pós-estruturalismo, e todos os outros conceitos discutidos em sala.
Subjetividade pode ser definida como o espaço de intersecção entre o “eu” e a sociedade, ou também como o modo de eu me relacionar com o “todo”, com o mundo aí fora.
As igrejas trabalham muito com a comunicação com o mundo exterior, principalmente as cristãs, através da pregação do evangelho, que é considerado o objetivo maior dessas instituições. Ao cantarem, pregarem e cultuarem a seu deus de forma muito alta e ruidosa, caracterizando uma forma de poluição sonora, nos deixam duas interpretações a serem utilizadas: ou acham que seu culto é mais importante que o conforto alheio, ou são extremamente ruidosos numa tentativa de fazerem os moradores vizinhos escutarem sua mensagem, e talvez serem convertidos por ela.
Em relação aos bares e casas noturnas, a impressão de falta de respeito fala mais alto. Quem está ali dentro, se divertindo, absorto naquele mundo de luzes e músicas remixadas, não se importa com quem está lá fora, se tem algum vizinho ali perto que precisa dormir pra no outro dia acordar cedo pra trabalhar. Quem está ali dançando valoriza sua subjetividade de tal modo que, pensa somente na sua diversão, não se importando se aquilo vai prejudicar alguém. É uma subjetividade egoísta, onde apenas o seu eu é valorizado (interpretação que pode ser usada também quanto ao caso da igreja, se pensarmos que o templo pensa seu culto ser mais importante que o conforto de todos nas proximidades).
Uma análise estruturalista do ruído produzido pelos dois tipos de estabelecimentos citados acima pode ser facilmente classificado como poluição, porém, a igreja levaria vantagem e seu caso seria tratado com menos rigor. Afinal, uma visão parcial e tradicional avaliaria que os objetivos da igreja são “melhores e mais nobres” que os das baladas, pois na igreja as pessoas vão lá para adorar a seu deus, enquanto na balada, muitos vão para praticar atos imorais, além do que, diversão nunca costumou ser vista de uma forma muito digna, e sim como perda de tempo e hábito de desocupados e despreocupados.
Pesquisar e conhecer mais sobre todos esses temas, nos mostra panoramas tão diversificados quanto às opiniões referentes a tais segmentos; o mundo está, sem dúvida, em intercâmbio integral de conceitos, identidades e “verdades”. Enquanto para uns, determinada prática implica em poluição, para outros é apenas um tipo de manifestação artística; enquanto para uns determinada instituição tem “licença” para poluir e incomodar os outros, para outros não há motivo mais nobre ou menos nobre para se fazer algo errado; o errado será sempre errado.
E por aqui ficamos, com apenas uma certeza: que ainda temos muitas dúvidas a serem sanadas.

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